Letras

JURITI

Aldo Justo e Paulo Tovar

Meu coração tem um desejo imenso
De ver o dia nascer pelo avesso
Meu coração, mão de pilão
Tem o jeito do avoar

Bota água na bacia
Que a cara do dia
Tá querendo vir

Tira a tranca da janela
Que de manhã cedo
Eu quero ver
O vôo da juriti

TRAVESSIA DO EIXÃO

Nonato Veras e Nicolas Behr

Nossa Senhora do Cerrado
Protetora dos pedestres
Que atravessam o eixão
Às seis horas da tarde
Fazei com que eu chegue são e salvo
Na casa da Noélia

Nonô Nonô Nonô Nonô
Nonôôôôô

DESPERTE A SUA LOUCURA

Nonato Veras

Desperte a sua loucura
Desate a sua fissura
De comer, de beber, de dançar
O corpo e a mente voar
De sonhar, de romper, de amar

O bem e o mal tão na carne
A vida não pode esperar
As asas, os espaços
A cidade é muito louca
Qualquer coisa é muito pouca
E o meu pensamento voou
Atrás do Liga Tripa
Só não vai quem já dançou
Atrás do Liga Tripa
Só não vai quem já dançou
(Eu também vou)

LABAREDA

Nonato Veras

Mesmo se chovesse tanto
Que arrasasse o milharal
Outra semente eu plantaria
Lá no fundo do quintal

Mesmo que o lume da noite
Vagalumeando o céu
Ainda assim eu acharia
Um avião de papel

Um olhar
Língua de fogo
É labareda

Um olhar
Língua de fogo
É labareda

EGUINHA
Guilherme Reis, Renato Matos, Luciano Porto, Maurício Araújo e Aloísio Batata

Não tenho culpa de ser assim
As outras éguas têm inveja de mim

Não é à toa que sou dengosa
Bonita e gostosa

Não é à toa que sou dengosa
Bonita e gostosa

Trabalho demais
Pra me enfeitar
Me canso demais
Derretendo
Torrões de açúcar

NINANDO O CAVAQUINHO

Carrapa do Cavaquinho e Ita Catta Preta

Basta pegar no cavaco
E dedilhar o chorinho

Guardar o medo no saco
Diabo vem rapidinho

Só quando o sonho é pintado
Com todas as cores do tom
As flores de todo lado
Com todos os sonhos do som

Dedilhar um cavaco laco malaco
Cavaco bembe mambembe
Cavaco samba, seu bamba
Cavaco rama
Cavaco lama

Dedilhar um cavaco cerrado mambembe
Que vem lá do meu coração

CORES
Aldo Justo e Carlos (Ceará) Batalha

Por cima do muro
As nuvens que me espiam
São óculos escuros
Pro olho bandeira do dia

E já que a pilha enfraquece
Desbotando a passarela
Eu quero a boca da noite
Na boca vermelha dela

Pontos prateados no manto
Da noite dessa senhora
Descem capetas e santos
No dente da zero hora
Se a vida for segredo
Talvez me rogue apressada
Me ajude a tirar o dia
Da goela da madrugada

E eu fito, eu beijo
Eu rasgo, engulo
Ou me engasgo

PROPRIEDADE PARTICULAR
Aldo Justo

Não são os meus sapatos
Mas as marcas que eles deixam
Não é minha essa camisa
Mas as cores que eu escolho

Não são meus esses meus braços
Mas o abraço que eu te dou
Não é minha essa casa que eu moro
Minha casa mora em mim

QUASE VINTES DENTES
Aldo Justo

Tenho quase vinte dentes
A metade bom
Tenho fome, garfo e faca
Made in meu coração
Quero sua carne mole
Quero sua carne gorda
Quero sua carne branca
Pra me envenenar

Minha peixeira
Corre ligeiro
No seu peito muita
Pimenta de cheiro

Quero sua carne verde
Pra me envenenar

FRUTA DO MAL
Aldo Justo, Nonato Veras e Paulo Tovar

Está lançado o pecado
Eu ando com o gosto da terra na boca
Eu ando com o vôo de todos os pássaros
Corro vadio e descalço
A saliva do mundo por entre meus dentes
A salada da vida nos beiços da sorte

Meu corpo explode navios
Estrela-guia de outras cadências

O olho da rua piscando pra mim
O olho da rua piscando pra mim

EDIFÍCIO NINGUÉM MORA LÁ
Sérgio Duboc e Vicente Sá

Ele tem antena parabólica
Mas ninguém mora lá
Tem garagem para três carros
Mas ninguém mora lá

Tem porteiro eletrônico
Mas ninguém mora lá
Não adianta ser duplex Triplex, quadriplex
Se ninguém mora lá

Na varanda, cadeira e espaço
E ninguém mora lá
Uma vista panorâmica
E ninguém mora lá
Elevador computadorizado
E ninguém mora lá

E no banheiro tem espelho
Mais espelho, quanto espelho
E ninguém mora lá

Essa cidade na gente
A gente nessa cidade
Um passarinho candango que chega
Às vezes Paranoá

Já na ponte do Bragueto
Sempre alguém mora lá
Sem paredes, sem mistérios
Sempre alguém mora lá
Sem banheiro, sem dinheiro
Sempre alguém mora lá
Não adianta não ter cama
Não ter rango, não ter nada
Sempre alguém mora lá

Essa cidade na gente
E a gente é necessidade
Um passarinho candango que chega
Às vezes Paranoá

SAMBA DA RUA 8
Sérgio Duboc, Flávio Faria e Vicente Sá

Vai ter que ser bem devagar
Vai ter que ser num fim de mês
Num bar qualquer ou por aí
Não sendo assim
Não pode ser

Talvez comece com um olhar
Ou tudo dito por você
Bem diferente ou outra vez
O amor, cê sabe
Eu nunca sei

Mas tem que ter muita emoção
Quebrar vidraças e dormir no chão
Quando chorar, sorrir
Pra nunca mais eu acordar longe de ti

POR PRAZER
Toninho Alves

Gritos na noite são de prazer
São como açoites do bem-querer
São labaredas, fogueiras
Foguetes subindo bem alto
É a vertigem da pele
Na pele marcada bem fundo
Pra nunca esquecer
Que a vida só vale se for por prazer
De viver sorrindo pro olho nu do dia
Viver cantando pra lua, nossa irmã
E te ver sorrindo pro olho nu do dia
Te ver cantando pra lua, nossa irmã

Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal